Encontro de percussionistas promete atrair músicos e estudantes para o Pelourinho.
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O assunto ainda é música, mas o Programa Pelourinho Cultural (IPAC), da Secretaria de Cultura da Bahia, inovou em fevereiro com a proposta de realizar um encontro para um bate-papo com os principais percussionistas da música brasileira.
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A pauta dos encontros, mediados pelo professor de percussão da UFBa, Jorge Sacramento, será variada e os músicos prometem abordar assuntos como criatividade rítmica, estilo, técnica, diversidade cultural, entre outros temas. Os percussionistas foram cuidadosamente escolhidos. “Todos eles estiveram em turnês fora da Bahia e tocaram com grandes nomes, a exemplo de Marisa Monte, Maria Bethânia e Caetano Veloso. Eles agregam uma vasta experiência”, diz Leonardo. Estudantes, músicos e o público em geral estão convidados a comparecer no encontro, que é gratuito.
De acordo com a Diretora do Pelourinho Cultural, Ivanna Soutto, o projeto é uma continuidade da série de eventos especiais realizados no Pelourinho desde agosto do ano passado, a exemplo dos projetos Viva a Cultura Popular, Lugar de Criança é no Circo, Blackitude e o curso de capacitação oferecido às baianas do Centro Histórico. “Agora, é a vez da prata da casa. A percussão é a base da sonoridade musical elaborada no Pelourinho. Convivo com ela há mais de vinte anos e, agora, vamos fortalecer as nossas referências e compartilhar o que já acumulamos”, avisa Ivanna.
Para os músicos o projeto Tudo é Percussão também tem um significado especial. Para Peu Meurray é uma oportunidade de discutir responsabilidade social e ambiental, mesmo quando o assunto é música. À frente do projeto Galpão Cheio de Assunto, Peu transforma pneus velhos em instrumentos e caixas de som, além de mesas e cadeiras. “Estarei presente para um bate-papo. Quero ouvir as pessoas e falar sobre as minhas experiências. Vou levar um caldeirão de assunto”, diz Peu. O artista promete mostrar parte da sua instalação plástica feita de pneus.
Peu alerta também para a importância de realizar projetos como este, onde o público tem contato com a arte sem que precise desembolsar qualquer valor. “Valorizo projetos para o povo. É legal que estes jovens músicos ou a população de modo geral tenham contato com o artista e saibam mais sobre a sua história”, diz.
Orlando Costa concorda com o colega. “Na minha época a informação era muita cara. Com este projeto, os novos percussionistas têm acesso gratuito à informação. Eles poderão aprender com a nossa experiência e, assim, terão referência sobre como caminhar. Torço pela percussão”, diz o músico, que promete falar sobre a importância da disciplina para os jovens profissionais. E para quem não entende tanto de música, mas gosta de um ouvir as batidas de um instrumento de percussão, Leonardo Reis avisa: “Podem acontecer milhões de coisas. Com certeza, o público vai conferir a performance dos artistas”.
PAPO DE MESTRE – “Qualquer objeto pode se transformar em um instrumento de percussão a depender do contexto em que ele esteja inserido”, explicou o professor mestre da UFBA, Jorge Sacramento. Mediador dos encontros do projeto Tudo é Percussão, Jorge falou ao Pelourinho Cultural sobre a importância do ritmo percussivo para os baianos, a sua valorização no exterior, as influências africanas e a cultura musical na Bahia.
De acordo com o professor, os instrumentos de percussão foram os primeiros a serem criados no mundo. Primeiro, surgiram os instrumentos de madeira, depois, vieram aparelhos feitos com pele de animais e, mais tarde, foi a vez do metal – como o agogô, pratos e triângulos. “A percussão é infinita”, destaca Jorge, ao explicar que basta reproduzir um som para que qualquer objeto, dentro deste contexto, seja considerado percussivo.
Tão rica e presente em cada esquina da capital baiana, a percussão pode ser explorada das mais variadas maneiras, entretanto, Jorge Sacramento alerta para a repetição de uma mesma fórmula – a do axé, característico do carnaval de Salvador. “No início dos anos 90, Carlinhos Brown e a Timbalada trouxeram uma inovação de ritmos porque misturaram elementos distintos oriundos do candomblé, do Caribe, de Cuba”, relembra Jorge, associando a repetição de ritmos à imposição do sistema capitalista. “É preciso ousar sempre”, completa.
A opinião de Jorge vem de um fator importante. A Bahia tem fortes influências africanas, por isso, é tão desenvolvida e variada quando o assunto é percussão. “Um percussionista que toca ritmos do candomblé é uma pessoa de talento desenvolvido. Trata-se de uma sonoridade riquíssima. Poucas pessoas conseguem fazer”, enfatiza. Por isso, Jorge acredita que a competência dos baianos na área percussiva não é por acaso e que são pessoas que já nascem com alguma vantagem. “Esta é a grande escola da Bahia – a escola da vida. Vivenciamos e aprendemos naturalmente, com a nossa própria cultura. Uma vez um americano chegou aqui tocando pandeiro. Tecnicamente, o ritmo até estava bom, mas eu disse para ele: ‘Para você tocar melhor, vai ter que aprender a sambar’. Daí, foi uma loucura”, diverte-se.
Apesar do talento inato, Jorge destaca a importância do estudo teórico e da busca constante por conhecimento e aprimoramento da prática. Segundo o professor, muitos percussionistas baianos aprendem a tocar quase que por instinto, mas não têm a oportunidade de desenvolver estudos sobre a percussão – o que muitas vezes faz com que ganhem ascensão sem a orientação profissional e psicológica necessárias. “Apesar da qualidade dos nossos percussionistas, 2 ou 3% apenas dos profissionais repercutem fora da Bahia, como é o caso do Leonardo Reis, o Márcio Victor, Gustavo, Bira – os percussionistas que participarão deste projeto. Estes se destacaram por buscarem trabalhos diferenciados, exploram mais e sabem fazer ritmos diversos”, afirma.
Para Jorge a valorização da música baiana e da sonoridade dos instrumentos de percussão no exterior é justa e merecida. “Salvador respira ritmo. Somos valorizados pela riqueza da música baiana. Temos percussionistas na França, Itália, Alemanha porque os estrangeiros amam a Bahia e a nossa cultura rítmica, onde quem não toca, dança”, brinca, lembrando-se de uma amiga carioca que ficou maravilhada ao conhecer o grupo Ilê Ayê, onde os profissionais tocavam e dançavam com os seus tambores simultaneamente.
Daniela Lustosa
Jornalista Responsável
Assessoria de Comunicação
PELOURINHO CULTURAL
O quê: Projeto Tudo é Percussão
Quando: De 12 e 15 de fevereiro, às 14h
Onde: Praça Pedro Arcanjo (entrada franca)
Programação:
12/02 – Gustavo D'Dalva e Márcio Victor
13/02 – Bira Reis e Waltinho Cruz
14/02 – Gabi Guedes e Peu Meurray
15/02 – Orlando Costa e Leonardo Reis